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23/10/2023 01h28

A fabulosa "PAUTA de COSTUMES"

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor
À medida que as igrejas evangélicas foram ganhando espaço dentro da sociedade brasileira.
 
À medida que a extrema direita foi ganhando espaço político e se empoderando, a partir do bolsonarismo (principalmente) e de outras vertentes.
 
Criou-se aí o ambiente propício para um casamento conveniente, vantajoso e perigoso entre o fundamentalismo preconceituoso das igrejas evangélicas e o oportunismo nojento de figuras políticas da extrema direita brasileira.
 
Dessa união, nasceu um rebento medonho chamado "pauta de costumes".
 
Por trás desta expressão repetida como um mantra pela extrema direita brasileira, se esconde uma concepção e uma tentativa brutal, tosca, fundamentalista e desumana de ignorar e aniquilar direitos humanos.
 
Direitos de igualdade de gênero, igualdade racial, direitos LGBTQIA+, direitos civis, direitos sexuais e reprodutivos e de reconhecimento da diversidade.
 
 Ou seja: a tal  “pauta de costumes ” bate de frente contra o reconhecimento dos direitos e da igualdade humana. É isso.
 
O resto todo é que a tal "pauta de costumes" é puramente combustível para empoderar o neopentecostalismo e a extrema direita, criando lorotas, teorias fundamentalistas preconceituosas ( e não raro fajutas),  lacração,  e fake news em escala diária, para fazer  lavagem cerebral nos templos monetários evangélicos, e em grupos de whatsapp e  redes sociais da numerosa bolha.
 
Para além dos vários perigos, e olhando sob vários aspectos, o problema de quem defende a pauta de "costumes",  é o costume que essa gente tem de ser cruel, burra e preconceituosa,  e se achar na razão de impor, de poder regular para sufocar,  por força do Estado,  por força de leis, as opções de vida e os direitos de igualdade e de cidadania daquelas pessoas que  têm uma orientação de vida diferente dessa gente fundamentalista e tosca.
 
Bolsonaro tentou colocar essa pauta várias vezes como elemento central de seu governo.
 
Fez dela elo de ligação com o mundo evangélico. e meio de reforço da adesão desse segmento e de outros ao seu governo e seu ideário.
 
E, em pequena parte, conseguiu colocá-la em prática em seu governo, por meio de ações desenvolvidas à época, principalmente no Ministério comandado pela evangélica e mentalmente perturbada Damares, hoje senadora.
 
Lembremos que Bolsonaro sempre se postou politicamente como sendo a favor dos costumes e da família
( tanto a favor, que constituiu 3 famílias em sua vida pessoal).
 
Bom, mas mesmo findado o período das sombras do governo do ex- capitão,  o ideário dos "costumes" continua bem vivo.
 
Permanece como elemento fundante dentro do mundo evangélico, como pauta diária nas redes bolsonaristas
( afinal de contas, a lavagem cerebral precisa ser ininterrupta para que a pauta vigore e seja defendida como o que há de mais essencial na vida das pessoas em um país), e permanece  como uma das pautas principais de deputados e de senadores da extrema-direita (sejam eles pastores, militares, ou membros da bancada evangélica, ou da Bíblia, ou outra correlata).
 
Se a gente  se focar exclusivamente nos efeitos práticos produzidos por  aqueles parlamentares que defendem essa pauta no Congresso,  a gente poderia dizer que seria mais ou menos como tosa de porco:  muita gritaria,  e pouquíssima lã.
 
Embora,  como há poucos dias atrás,  eles às vezes tenham vitórias pontuais com seus projetos dos "costumes" em comissões temáticas dentro do Congresso.
 
O problema maior não é a gritaria e nem as poucas vitórias que essa turma obtém  em relação a essa pauta.
 
O problema maior é a perpetração e o aumento em intensidade destas ideias em um contingente cada vez maior de brasileiros.
 
Se molda,  seja através do mundo evangélico,  ou através da ação política e comunicativa da extrema direita,  um contingente de milhões de brasileiros seguidores  e crentes em um ideário que nega direitos básicos de cidadania a quem não se enquadra dentro de  um molde fundamentalista distorcido de família e de forma de viver como ser humano.
 
Esse é o grande estrago da tal "pauta de costumes".
 
Naturalizar na mente de milhões de brasileiros a ideia de que só deve ter direitos básicos e de cidadania quem se enquadrar em  moldes fundamentalistas e conservadores de família e sexualidade .
 
Não tenho resposta pronta de como  enfrentar isso, porque a complexidade deste cenário é enorme.
Mas tenho absolutamente  certeza de que, para além de se achar uma coisa bizarra e absurda o que essa pauta representa, há um perigo enorme no sentido de moldar milhões de brasileiros com uma visão completamente distorcida, preconceituosa, excludente e desumana,  em relação ao que deve ser a diversidade de vida num país como o Brasil, e que toda essa diversidade esteja amparada debaixo de um guarda chuva legal e social de cidadania e direitos, e isso precisa ser profundamente debatido.
 
Papo reto: se fosse somente pela bizarrice,  seria somente de ignorar a tal "pauta de costumes".
 
Mas o problema é que ela causa um estrago enorme, moldando mentes de milhões de brasileiros que a seguem, e causando cicatrizes imensas na vida, na cidadania e nos direitos dos segmentos sociais que essa pauta condena e faz odiar.
 
É isso.
 
Além do mais....é bom a gente sempre lembrar....por trás de muito conservador e extremista,  defensor da família e dos costumes, e que odeia e vocifera contra a "ideologia de gênero" e minorias...há uma louca garota que adora usar cinta liga. 
 
Não é mesmo ?
 

 

Este artigo é de responsabilidade exclusiva do seu autor, não representando necessariamente a opinião do portal.

 

Comentários

Muito bom mesmo. Faloy tudo desse bolsonarismo impregnado , imposto por eles. Mas iremos lutar sempre , pois jamais queremos menos direitos.

Leonida barros de bairros - 23/10/2023 22h14

 

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